quinta-feira, 17 de julho de 2008

Capacidades

Não se aprende tudo na escola. Nem se aprende tudo durante a infância e adolescência. Há coisas que se aprendem naquela fase da vida que ainda não tem nome. Naquela fase em que já não somos adolescentes, mas que também ainda não somos adultos, porque ser adulto não é apenas o número de anos que se viveu, mas toda uma disposição e atitude mental perante a vida que se podia descrever ao longo de trinta linhas mas que eu vou apenas classificar de aborrecida. Pronto, vá…Chata. Retomando. Hoje dei conta de uma aprendizagem que fiz nos últimos tempos. Nos últimos anos, na verdade. É ela desligar os ouvidos do cérebro. Passo a explicar. Sempre fui daquelas pessoas que necessitava de um silêncio absoluto para qualquer actividade que exigisse concentração mental. Escrever, ler, estudar, pensar. Enfiava-me em bibliotecas e comecei a viver de noite, as horas do silêncio. Quando já todos roncavam, a minha produção intelectual – fosse ela qual fosse, que agora não me lembro especificamente de nada mas de certeza que produzi intelectualmente qualquer coisa ao longo de 25 anos de existência – desenvolvia-se. Entretanto, vim trabalhar para um open space, moda moderna das instituições de trabalho, em que as pessoas são postas todas juntas a confraternizarem umas com as outras num espaço exíguo, qual galinhas. Foram meses difíceis, os primeiros. Não conseguia escrever três linhas sem esbarrar num suspiro, numa conversa telefónica, numa tosse crónica, num choro meio escondido. Desesperava e gritava que iria conseguir produzir dez vezes mais se tivesse um gabinete só para mim, de preferência à prova de som. Bom, gritava em casa, que uma estagiária desafiar logo o poder patronal não é o melhor caminho para a contratação – aliás, qual será? Alguém sabe? Alguém me explica? Mas entretanto, como não me deram o tal gabinete – bolas, nem um caixote de lixo eu tenho só para mim – até porque não podiam adivinhar que eu queria um, fui-me adaptando. É extraordinário, o Homem. Adapta-se a tudo, esse grande ser. E hoje, dois anos e meio volvidos, já quase não oiço o que se passa à minha volta. Com um poder de abstracção desenvolvido ao longo das horas aqui passadas, poder esse que quase me poderia dar direito à entrada para a série Heroes (digo eu, que já merecia, pois bem sei o que me custou) os meus ouvidos desligam-se absolutamente do cérebro. Já consigo escrever um texto inteiro de 9 mil caracteres e, pasme-se, até revê-lo, em apenas um dia. Qual Hércules, tenho hoje uma força imensa no que respeita a desligar os nervos que transmitem informação, e mantê-los desligados. Nem sempre é bom, claro. Não oiço quando me chamam para cigarros na esplanada, não oiço as piadas, não oiço as discussões – que adoro cuscar. Mas também não oiço a música de qualidade duvidosa, da qual a Lambada é o melhor exemplo, do open space adjacente, nem as conversas telefónicas constantes, nem os choros, os murros na mesa e a irritação que são permanentes no meu.
Aprendi uma coisa muito útil: a meter-me só na minha vida e nos meus pensamentos. São muitos mais interessantes que os dos outros. Será que sou adulta?

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Enamoramento

Há frases românticas:

"Só te falta pôr ovos. Se pusesses ovos, éramos independentes do mundo."

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Dolce fare niente

Entre casamentos, festivais e dolce fare niente, deixei de escrever. O casamento passou. A noiva estava linda, o noivo estava feliz, o vice-versa também se aplica, ambos estavam apaixonados e espera-se que a união, a felicidade e a beleza durem para sempre e que eu seja regularmente convidada para jantares caseiros tranquilos e prazenteiros. O festival acabou, deixou algumas recordações (a Roisin deu um grande concerto, o Neil também), outras tantas desilusões – Bob, oh Bob – e algum cansaço, mas já se sabe que para o ano há mais e que eu lá estarei. O dolce fare niente ainda dura por isso continuo sem escrever. Isto foi apenas para não dizerem que não faço posts.