quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Traições

A questão da traição ou da infidelidade tem-me dado que pensar, por vários motivos, nos últimos tempos. Hoje foi-me sugerido que escrevesse sobre o tema.

Não é fácil. Tenho muitas ideias concebidas, e preconcebidas, sobre o assunto. Mas se me proponho escrever sobre o mesmo, quero fazer uma reflexão um pouco mais cuidada.

Nesse sentido, e porque acho que é sempre um bom ponto de partida para qualquer meditação, decidi ir ver os significados das palavras ao dicionário. Palavra puxa palavra, este foi o resultado obtido:

Do Priberam:

Trair:
do Lat. tradere, entregar
v. tr.,
atraiçoar;
enganar por traição;
falsear;
ser infiel a;
denunciar;
revelar;
não cumprir;
v. refl.,
descobrir involuntariamente o que se pretendia ocultar;
delatar;
comprometer-se.


Traição
do Lat. traditione, entrega
s. f.,
acção ou efeito de trair;
intriga;
deslealdade;
aleivosia;
perfídia;
cilada;
infidelidade.
loc. adv.,
à -: traiçoeiramente;
alta -: atentado contra a segurança do Estado.


Infidelidade:
infidelidade
do Lat. infidelitate
s. f.,
falta de fidelidade;
qualidade de quem é infiel;
traição;
deslealdade;
perfídia.


Adultério:
adultério
do Lat. adulteriu
s. m.,
violação da fé conjugal;
infidelidade conjugal;
falsificação;
adulteração.


Posto isto, continuei com algumas dúvidas. Ainda não me sentia satisfeita. E sempre ouvi a minha avó dizer: «Se não sabes, vai ver na enciclopédia.» Assim fiz. Dadas as maravilhas dos tempos modernos, fui à Wikipédia. Resultados em baixo.

Traição, como uma forma de decepção ou repúdio da prévia suposição, é o rompimento ou violação da presunção do contrato social (verdade ou da confiança) que produz conflitos morais e psicológicos entre os relacionamentos individuais, entre organizações ou entre indivíduos e organizações. Geralmente a traição é o ato de suportar o grupo rival, ou, é uma ruptura completa da decisão anteriormente tomada ou das normas presumidas pelas outros. De acordo com a Psicologia, e segundo a psicoterapeuta Olga Inês Tessari, são vários os fatores que levam à traição: questões culturais, carências, insatisfação em relação a desejos e expectativas com o (a) parceiro (a), vingança, a busca pelo novo, o estímulo provocado pela sensação de perigo, ou mesmo de poder. "A idéia de posse existe em quase todas as relações estáveis e as cobranças de fidelidade são normais e aceitas pela sociedade."

Infidelidade é literalmente uma ruptura da fé e ocorre vários contextos (por exemplo religioso).
Infidelidade é o descumprimento de um compromisso de fidelidade. É uma violação de regras e limites mutuamente acordados em um relacionamento. Em sua acepção mais comum, a fidelidade é manter relações amorosas somente com uma pessoa que é sua parceira ou parceiro. Portanto, a infidelidade é quebrar este pacto tácito de manter relações sexuais com uma pessoa que escolhemos como parceiro ou parceira.
A infidelidade pode significar a ruptura de qualquer compromisso que tenhamos tomado livremente e, que por qualquer circunstância foi quebrado. No entanto, não significa o que mesmo que adultério.
O que constitui um ato de infidelidade varia no meio e dentro culturas, não dependendo da presença do comportamento sexual. Mesmo dentro do relacionamento próximo alguns povos podem ter idéias e percepções muito diferentes da infidelidade.

Adultério é uma palavra que derivou da expressão em latina ad alterum torum que significa literalmente na cama de outro(a) que designava a prática da infidelidade conjugal e com o tempo se estendeu ao sentido de fraudar ou falsificar adjeta ao verbo "adulterar". O adultério, como "ato de se relacionar com terceiro na constância do casamento", é considerado uma grave violação dos deveres conjugais por quase todas as civilizações de quase toda a história, sendo que algumas sociedades puniam gravemente o cônjuge adúltero e/ou a pessoa com quem praticava o ato, sendo ambos passíveis de morte.
Historicamente a prática de adultério era criminalmente mais grave quando praticado pela mulher em relação ao homem. Hoje em dia, embora tal discriminação não exista nas leis dos países ocidentais, ou tenha perdido sua eficácia sociológica, na prática do dia a dia a conduta continua a ser visto de forma diferenciada, dependendo do gênero de quem realiza o adultério.
No
direito medieval, os praxistas formularam gradação segundo a gravidade como as figuras nudus cum nuda im oedem lectum (nu com nua na cama) como modalidade mais grave e o solus cum sola im solitudine (ele só com ela) como modalidade menos grave.
Ao longo da história, o filho havido mediante adultério, tinha uma situação vexatória e certas restrições de direitos, inclusive quanto ao recebimento da herança ou o uso do sobrenome paterno. Entretanto, as legislações e sociedades modernas extirparam de vez tais preconceitos.


Monogamia: A monogamia acontece quando um indivíduo só tem um único parceiro durante um determinado período de tempo. Este termo usa-se também para referir a existência de um único parceiro sexual durante toda a vida de um indivíduo. No mundo animal, este termo é usado para referir a prática de permanência com um parceiro com vista à reprodução sexual e aos cuidados parentais com os recém-nascidos.
Monogamia humana: Mas o que caracteriza a monogamia, é que ela representa uma espécie de contrato social, uma relação de propriedade privada entre os agentes sociais, cada qual sendo proprietário da sexualidade do outro e a outorgação desse contrato é a fidelidade, uma coerção para manutenção do contrato, estado de vigilância, noção de propriedade privada
Segundo Engels a monogamia surgiu quando surgiu a propriedade privada, e o homem subordinou a mulher para gerar uma prole e herdar a propriedade do mesmo.

Meus queridos (e em especial minha querida): demasiada informação. Vou meditar sobre o assunto, ponderar todos os factores, e amanhã escrevo as minhas opiniões sobre a questão.

Vou já sugerindo, para quem tem tempo e uma boa biblioteca em casa, duas obras magistrais sobre o tema: Madame Bovary, de Gustave Flaubert (Editada, pelo menos, pela Europa-América) e Anna Karenina, de Lev Tolstoi (da Relógio D'Água).

Pensem e digam de vossa justiça - o que vos aprouver. Há liberdade de expressão, e todos os pontos de vista são bons - ou pelo menos benvindos.

Acabo com duas citações:

«Quando é que as mulheres começarão a ter a intuição de que acima de todas as infidelidades se acha a da verdade, quer dizer, a fidelidade a si mesmas, e que marido, filhos e países não são nada perante isso?»
Alice James

«As pessoas que só amam uma vez na vida, são realmente pessoas superficiais. Aquilo a que chamam lealdade e fidelidade não passa, para mim, de um hábito de entorpeciemtno ou de falta de imaginação.»
Oscar Wilde

domingo, 25 de novembro de 2007

As frases dos outros: fio dental


«Uma mulher quando usa fio dental é sempre referida como gaja. Nunca se ouve na mesma frase: 'Aquela rapariga está brutal com o fio dental'; 'Aquela mulher fica óptima com aquele fio dental'; 'Aquela miúda é uma brasa com aquele fio dental'.
Conclusão: é sempre: 'Aquela gaja fica altamente boazona com aquele fio dental'.»




Não é que eu goste particularmente, mas lanço a proposta: que tal unirmo-nos, mulheres, e usarmos apenas fio dental por uma semana? Mesmo já tendo passado de moda. Só para marcar uma posição. Estou solidária com todas as que o usam, e defendo o seu direito a usá-los. Sem serem tratadas como gajas.


Podemos criar, junto ao Natal para acentuar a heresia, a Semana de Solidariedade com Quem Usa Fio Dental.


Estou farta de preconceitos. E esta frase foi-me dita por um homem que respeito, e que diz ter uma visão igualitária de género.


Lá está. Assim estamos no séc. XXI.


Será que ainda vamos ter que queimar as cuecas? Não terão bastado os sutiens?

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Transmission

Um cheirinho....do orginal, que é sempre melhor.

http://www.youtube.com/watch?v=6ZwMs2fLoVE


How da fuck é que se põe isto para se ver logo o video? Alguém me diz?

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

As conversas de café: Cinema e Control.

Falava-se de filmes no outro dia. Dos bons, dos maus, dos assim-assim. Dos que fazem-chorar-mas-que-não-prestam-para-nada, dos filmes-de-domingo-à-tarde-mas-que-nem-são-maus, dos bons-para-comer-pipocas, dos que se-não-for-no-King-então-não-vale-a-pena, dos sou-demasiado-snob-para-admitir-que-vi. Enfim, toda uma série de categorias.

Impressionantemente, na mesa em que a conversa se desenfumou, só dois não tinham visto o Control. Impressionantemente porque 2/4 dos fumantes não eram nascidos quando o Ian Curtis morreu e 1/4 ainda andava de fraldas. Ou seja, apenas 1/4 tinha acompanhado a coisa de perto e se tinha realmente emocionado / enlutado / entristecido / fechado no armário (o da idade) em 1980 quando o Ian se suicidou.

E impressionantemente - é a última vez que uso a palavra hoje, prometo - não nos encontrámos todos à esquina a tocar a concertina e a beber uma cafezada no King. Mas fomos. E ali à mesa, dois dias depois, discutíamos o visto. Cada um com a sua perspectiva, claro. A um incomodava-lhe a falta de aproveitamento do formato 16 por 9. Eu nem sei o que isso é. Aliás, mesmo depois da explicação, continuo sem conseguir identificar o mesmo. Bom, que os planos eram muito certinhos. Falta de arrojo na realização. Que a cena do Hate - não sabem, vão ver, que uma ida ao cinema não faz mal a ninguém - era uma tentativa de rasgo artístico, mas sem nenhuma sequência. Outros que não, que a cena do blusão - se continuam à nora levantem o rabo e vão comprar o bilhete - fazia todo o sentido. Enfim, filme disseminado até à exaustão. Resultados obtidos por mim, que fumei dois cigarros enquanto tentava absorver todas estas tecnicalidades:

1- Divirto-me imenso quando vou ao cinema. Vejo o filme e entro nele. Esqueço-me da sala e vivo aquelas horas como que dentro da tela. Bom para mim, que curto. Pior para mim, porque nunca vou conseguir escrever decentemente sobre os filmes vistos. Há sempre o reverso da moeda.

2- O filme peca pelo excesso de protagonismo dado ao triângulo amoroso. Todos concordámos no mesmo. Mas apenas nós, mulheres, conseguimos ver a estereotipização presente na coisa.
Estereótipo 1- A mulher-esposa, coitada, que se dedica à família, ao lar, e é uma vitima deslavada. Mal pronta, mal maquilhada, mal vestida, desleixada.
Estereótipo 2- A outra. Não, melhor: a Outra. Uma jornalista - coitada, é que não estava habilitada a trabalhar nem para o Tal & Qual - cheia de Sex Appeal, mas que vem dar cabo de tudo. Boazinha que dói. Destrói um lar, mas é uma santa. Claro, não interessa. É linda de morrer. Densidade das personagens? ZERO. Mas o que é que importa? São mulheres. Ou se tem a oficial - a esposa - que geralmente é uma seca; ou se tem a outra, que geralmente é o máximo

3- Contas à parte, ficamos confundidos. Matou-se o Ian Curtis porque não conseguia escolher entre a mulher e a amante? Então não foi por causa da sua crise existencialista que excedia - presumo eu- estas trivialidades da vida familiar?


4- Adiante...Gostei do filme. Os concertos são óptimos. O Ian Curtis parece ressuscitado. Acima de tudo, emocionei-me no fim. Emocionei-me, não. Maldispostei-me. E quando sabemos o fim, e o punch nos atinge o estômago como se não houvesse amanhã, então é porque o filme é bom. Pelo menos para mim que é assim que vejo os filmes.

A senti-los e a emocionar-me com eles.

Fui para casa a sentir-me mal. Tinha uma bola do peso do mundo na barriga. Só melhorei no dia seguinte. Grande filme.

Escrever

Não pensei que isto fosse possível. Juro que não. Mas foi. Fiquei sem linhas. Aliás, mais grave ainda: fiquei sem letras. Uma semana sem escrever nada. Nem um ponto final, um travessão, uma virgula. Nada. Silêncio total.

Será que não tenho mesmo nada para dizer? Será que tive uma semana vazia? Estiver eu sete dias sem pensar? Sem ter uma única ideia, um rasgo criativo, nada?

Terei ficado em frente à televisão a embrutecer?

Terei ficado tão embrenhada nas páginas, parágrafos, linhas, palavras, letras dos outros que ignorei as minhas?

Um escritor sem caneta é uma imagem triste. Um escritor sem letras, palavras, frases ou pontuação é mais triste ainda.

Ainda bem que não sou escritora.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Mulheres à beira de um ataque de nervos II


Mulheres à beira de um ataque de nervos


Testosterona.

s. f.,
hormona sexual masculina, segregada pelos testículos.


(Definição do Priberam)

Progesterona.

A palavra não foi encontrada.

(Definição -?- do Priberam)


Dá que pensar sobre o estado de coisas no séc. XXI.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

No principio era o verbo

Pois. As linhas dos dias então. Todos os dias, ou quase todos, têm linhas. Alguns só têm uma letra. Esses são tristes. Mas a maior parte tem pelo menos duas, três, quatro letras. Juntas, formam uma palavra. Pelo menos uma interjeição. Já é qualquer coisa, penso. Uma linha é de certeza.

Podemos fazer parágrafos simples. Às vezes uma palavra diz muito mais que 99. Há aqueles parágrafos cheios de paradoxos, hermenêuticas, paradigmas, nomeadamentes e mormentes. São linhas e linhas, de letras, palavras e pontuações, que não dizem nada. Ficou igual quem escreveu. Ficou igual quem leu. Depois há parágrafos simples, que nos mudam. Mudam quem escreve. Mudam quem lê.

Há um que, a mim, me toca sempre. Deixa-me diferente daquilo que era. Provoca-me sensações.

«Fim.»

É o parágrafo mais duro. Mas é também o mais simples. E aquele que sempre transmite alguma coisa.

As linhas dos dias é um espaço assim. Para mormentes e para fins. Para criar um fio que conduz os dias. Por palavras, claro. Sou uma mulher da palavra. E não quero mais palavras engasgadas.

Deixem aqui também as linhas dos vossos dias. Mesmo que seja só uma letra. Ou mesmo que sejam linhas sem fim.

A palavra, pois.

Por dizer

Hoje a linha é curta. Mas, como disse, não quero ficar com palavras engasgadas. E fico sempre.

ADORO-TE.

Assim mesmo. Em caixa alta, bold e encarnado. Porque não sei adorar de outra maneira.