sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Carta aberta ao Senhor Aflito

Caro Senhor,
Por enquanto a sua identidade permanece-me desconhecida. Eu nem sei se é português ou inglês, homem ou mulher. Mas tenho para mim que deve estar muito aflito e preocupado, com medo de que lhe descubram os 4 milhões. É complicado. Na verdade, cara pessoa, a prisão é um sério risco que enfrenta (embora, convenhamos, em Portugal só o Vale e Azevedo é que vai preso e não me parece que você seja ele). Em todo o caso, o cárcere é uma possibilidade. Bem como as chatices que podem advir de alguém, especialmente alguém dos jornais, descobrir que é você que tem ficou com o dinheiro. Vão escrutiná-lo e colocar a sua cara e o seu nome em todas as capas dos matutinos.
Ora eu por mim, que sou boa pessoa e não tenho uma imagem pública a defender, queria apenas dizer-lhe que se precisar dos meus préstimos pode contar comigo para lhe ocultar esses euros. Sinta-se livre de o depositar na minha conta. Não é uma offshore, é da Caixa Geral de Depósitos, como boa portuguesa que sou. Mas não se preocupe comigo, que eu resolvo os meus problemas. Se quiser, faça depósitos de 499 euros, porque a partir dos 500 há aquela questão dos impostos a pagar pelas doações.
Se precisar do meu nib é só escrever-me para o endereço de e-mail disponível no canto superior direito da página.
Ainda não fiz nenhuma boa acção este ano, e já vamos no final do mês. Por isso escolhi ajudá-lo a si, porque penso que seguramente estará muito aflito, com esses 4 milhões a queimarem-lhe os dedos e a carteira e sinto que é, por isso, meu dever ajudá-lo, num momento em que ninguém se parece preocupar com o seu bem-estar.
Sem mais de momento, atentamente,
Rita

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ainda Updike

Facto de grande importância, e por mim omitido - por desconhecimento de causa - na primeira postagem. Não só John Updike era escritor de inegável talento, como era portador dessa doença terrível chamada psoríase. Diz ele que esta lhe determinou a vida. Talvez por ela se tenha tornado escritor, profissão que não exigia que exibisse a pele, e por ela se casou cedo «porque, tendo um vez encontrado uma mulher graciosa que relevou a minha pele, não me arrisquei a perdê-la e a tentar encontrar outra», escreve. Além disso, dá um twist ao mito de Narciso bem interessante: «A psoríase põe a gente a pensar. Estratégias de dissimulação ramificam-se e a autocrítica não tem fim. Somos compelidos ao espelho, a toda a hora; a psoríase obriga ao narcisismo, se concebermos um Narciso que não gostava do que via.»
Agora, sim, tenho para mim garantido que vou para casa ler O Terrorista, o Corre, Coelho, e os que mais pelas minhas estantes encontrar. Já encontrei qualquer coisa em comum entre mim e Updike. Agora quero descobrir mais. De qualquer forma seria bom, daqui a uns anos, ter também um Pulitzer a aproximar-me dele (dois é capaz de já ser pedir demais...). Será que o Roth também tem destas coisas?

Enquanto nos riamos

e enquanto bebíamos copos e comemorávamos aniversários, John Updike morreu, antes de completar 77 anos. Agora estou com sentimento de culpa, a lembrar-me que deixei O Terrorista a meio e o troquei por qualquer outra ficção, provavelmente menor. Prometo que lhe vou voltar, acabar e ainda deixar aqui algum parágrafo na esperança de vos convencer a lê-lo. Tu agora já o podes ler. Já está morto. Infelizmente. Ainda um mês não passou e este ano de 2009 já está cheio de perdas e mortes a torná-lo mais triste e ao mundo um lugar mais vazio.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Toma uma pin up para ti


Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah. Já estás tão velha quanto eu. E, surpresa, surpresa, já tens mais rugas na tua cara que moi na minha. Mas não faz mal, vamos envelhecendo juntas, que isso é o que interessa. Havemos de ser velhinhas, sobremaquilhadas, com uns penteados muito armados, e umas roupas estapafúrdias muito coloridas e muito out, e continuaremos a tomar os nossos cafezinhos, a fumar os nossos cigarrinhos, a rir que nem umas pitas histéricas (a culpa é do útero, nós não temos nada a ver com isso) e a chamar os olhares dos outros transeuntes. Aos 90 ainda nos vamos perguntar se o amor poderá ser eterno, se o sexo poderá ser melhor, e se o que conta é o comprimento, a largura, ou somente a performance. E a ser muito felizes e muito tontas, a cantar a plenos pulmões e a programar a nossa girls band. A ficar chocadas com as bocas da Kátia e com o ego da Mami. E vai ser bom, muito bom, porque aconteça o que acontecer vamos viver isso tudo juntas. Todos os aniversários, todas as rugas, todos os pneus, todos os quilos, todos os Verões e a neve que não neva mas está quase a nevar no Inverno, todas as tristezas e desgostos, as alegrias, as comidas, jantares e almoços que pequenos-almoços não são connosco, as casas, os filhos, os animais de estimação, as grandes e pequenas conquistas profissionais, os pássaros do Sul no mar da Costa e em todos os outros mares que hão de vir, os rebolares na areia na Ericeira, as máscaras fora do Carnaval na festas lisboetas, os filmes, os concertos, as cantorias, os bolicaos – ai meu Deus que eu desmaio mas tu não te preocupes avisa toda a gente que eu estou bem – os filmes, os livros e os teatros que aí vêm, juro que vêm e vai ser nos 26 que o Shakespeare em alguns minutos que não me lembro quantos vai bater à tua porta. Todas essas pequenas e grandes coisas que são nossas e nos fazem e que tornam todos estes anos tão especiais e tão merecedores de ser vividos e recordados. Que os 26 sejam melhores que os 25 que eu esteja lá em quase todos os bons momentos (quase, há uns em que quero estar longe, muito longe) e em todos os maus, porque para isso é que eu sirvo. Usa e abusa que gosto muito de ti, e olha que não gosto muito de muita gente. Parabéns pipoca cor-de-rosa.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

The 80's are back!


Sucessos 2008

Basicamente tudo se resume numa frase: diverti-me imenso. E isso diz tudo. Um grande bem haja aos que o tornaram possível. Não há mistério. Sim, são vocês. Os suspeitos do costume que ainda perdem tempo a ler este blogue. Obrigadinha, pá! Já sei, tu desculpa, mas eu gosto do pá. A minha kátia percebe-me. 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Eu e a Segurança Social

A Segurança Social descobriu-me. Eu, que nunca lhe disse nada, sempre fiquei quieta no meu canto, a fazer de morta ou inexistente, estou inocente dessa descoberta. Fui dar com uma carta endereçada à minha pessoa na caixa do correio. Estranhei logo o remetente. Deve ser engano, não pode ser para mim, então se eles nem sabem que eu existo. Uma pessoa que não nos conhece não nos escreve, certo? Sim, claro, está bem está. Então, Rita, e a publicidade, especialmente a enganosa, vendedores da banha da cobra, aquelas cartas óptimas que nos dizem que ganhámos 10 milhões de euros que só temos que comprar um telemóvel para os receber? Pois, já me esquecia. Adiante: lá abri a carta, a ver se aquilo era mesmo comigo. Ao que parece, era. Sabiam muitas coisas sobre mim, batia tudo certo e convenci-me de que era mesmo para mim. Agora a SS faz parte da minha vida e correspondemo-nos. Pronto. Mami, tu desculpa, mas afinal tenho mais um pen pal. Não te preocupes. Também ainda não lhe respondi e a tua resposta irá primeiro para a caixa do correio que eu gosto mais de ti do que deles.
Onde é que eu ia? Ah, certo, em como é que a SS (esse monstro de grande tentáculos) chegou a mim. Afinal, descubro, eles falam todos entre eles. Bem ao jeito português. Nada do que façamos passa impune, há sempre alguém que sabe que somos, e que está de olho em nós, e que vai contar aquilo que fazemos aos seus amigos mais chegados, mesmo que esses amigos não nos conheçam porque, o que é que isso interessa?, de certeza que vão ter interesse na nossa história pois, entre outros motivos, convenhamos, vão acabar por nos conhecer mais tarde ou mais cedo, que este país é pequeno demais para não nos cruzarmos nalgum momento. Julgamo-los ineficientes (aos senhores da SS e da função pública em geral) mas essa ineficácia é só para algumas coisas. Ao que parece que as Finanças passaram a mensagem: Atenção, que têm aqui uma trabalhadora independente. Cuidado com a jornalista Freelancer. De certeza que é trapaceira. Escrevam-lhe. Obriguem-na a dar-vos os seus dados, sob pena de nunca lhe verem um cêntimo. Abriu actividade há quase 1 ano e ainda não vos disse nada.
E voilá, depois de escrever à Mami como prometido, vou também responder-lhes a todas as questões que me colocaram: tenho que ser coerente com os meus ideais e eu acredito no Estado e no Estado-Providência e essas coisas todas. Mas aviso desde já: é mais provável, senhores da SS, que vocês gastem mais dinheiro comigo do que eu convosco. Uma relação é sempre a dois, e quando um dá o outro recebe, mas depois troca e é mesmo assim que senão é injusto. E, maravilha, este ano tenho isenção, não tenho que vos pagar nada, para o ano digo que sou pobre (é um facto) e depois, quando a crise acabar por ditar o fecho do jornal onde escrevo, vou dizer-vos que estou desempregada e que preciso de um subsidio. Posteriormente engravido e como não casei, que isto está difícil e o homem não só não partilha da fé católica como não gosta particularmente destes rituais pagãos, sou mãe solteira, o que me dá direito a mais uns cobres, e vamos prosseguindo neste rame-rame até que a morte nos separe (espero que a minha e não a tua, mas essa é uma incógnita que só daqui a uns anos é que vamos descobrir, embora, aparentemente, tenhamos as duas os dias contados a médio prazo).

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

À espera

Estou em suspenso. A última hora foi passada à frente do computador, a olhar para a página do Gmail, à espera da resposta a um e-mail previamente enviado. É complicado. Nunca sabemos se a pessoa recebeu o e-mail, quando recebeu, quando o leu. Será que também tinha o Gmail aberto e o leu imediatamente, ignorando o facto de pedir resposta? Pode ter lido, bufado, e ido fazer uma sandwiche. Ou pode ainda não ter lido, ou estar a ler agora. Ou seja, estou à espera de uma resposta que pode chegar daqui a um minuto, daqui a meia hora, daqui a uma hora, três horas, um dia, uma semana, um mês, nunca. E, até lá, fico à espera. À espera no sentido temporal e no sentido da esperança em si mesma. Estou, portanto, pendente de um e-mail. O que é estranho. Porque habitualmente, quando ficamos pendentes de um e-mail, sms ou telefonema, que pode chegar a qualquer instante, quando suspendemos a vida em função disso, a coisa costuma envolver dois tomates, um pepino e uma qualquer promessa sexual. Neste caso não. Estou à espera de resposta de uma mulher que nunca vi na vida, e que está a um oceano de distância. É trabalho, meu Deus, é trabalho. Estarei uma workaholic? Eu? Assim começo 2009. Podem contratar-me. Serei uma boa profissional. Não cobro muito. Consta que a relação qualidade/preço é excelente.