sexta-feira, 30 de maio de 2008

A dor

Hoje acordei com uma dor. Há muitos dias que acordo com esta dor, que persiste o dia todo. Aliás, vai aumentando com os passar das horas. De facto, a dor aumenta numa relação directa com o tempo. Estarei doente?

terça-feira, 27 de maio de 2008

O tempo II

O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tempo tem.

Bolas, tem uma data de tempo, o tempo. 

O tempo

É estranha a relação que se pode ter com o tempo. Há dias em que amamos cada hora, cada minuto, cada segundo. Queremos que se estendam, que durem até à eternidade. Odiamos o tempo porque passa rápido, porque não se demora. Há outras alturas em que detestamos cada segundo, porque se atrasa, porque se estende, porque não passa. Queremos que os minutos, as horas, os dias, as semanas se ultrapassem e que voem à velocidade da luz. E nunca, mas nunca isso acontece quando o queremos. O tempo arrasta-se, insiste em dizer que está ali, que ninguém o pode apressar, que é seu e só seu. Que é inexorável. Odiamos o tempo nessas alturas também.
O que nos deixa sempre a odiar o tempo, excepto quando não pensamos nele. Aí votamo-lo à indiferença. É chato ser o tempo. Deve ser horrível que ninguém goste de nós. 

domingo, 18 de maio de 2008

Tenho saudades vossas e das vossas armas de destruição massiva: as vossas palavras. Voltem. 

sexta-feira, 16 de maio de 2008

JUSTICE - STRESS

Podia escrever todo um testamento sobre isto. Não o vou fazer. Simplesmente gosto. E tu?

Uma Questão de Beleza


"Os filhos Belsey dirigiram-se a um café próximo. Sentaram-se em bancos alinhados contra a montra de vidro, olhando para a charneca devastada de Boston Common. Puseram em dia as novidades mútuas de um modo descontraído, deixando longos espaços aconchegados de silêncio durante os quais se ocupavam dos bolinhos e cafés. Jerome - depois de ter tido de ser espiritual e brilhante numa cidade estranha entre estranhos - estava a apreciar aquela dádiva. As pessoas falavam da tranquilidade feliz que pode existir entre dois amantes, mas isto era demasiado grande; sentado entre a irmã e o irmão, sem dizer nada, a comer. Antes de o mundo existir, antes de ser povoado, e antes de haver guerras e empregos e colegas e filmes e roupas e opiniões e viagens ao estrangeiro - antes de todas essas coisas, tinha havido apenas uma pessoa, Zora, e apenas um lugar: uma tenda na sala feita de cadeiras e lençóis. Ao fim de alguns anos, Levi chegou; abriu-se espaço para ele; era como se ele sempre tivesse existido. Ao olhar agora os dois, Jerome viu-se nas articulações dos dedos deles e nas suas perfeitas orelhas em concha, nas longas pernas e nos indomáveis caracóis. Ouvia-se a si mesmo no ceceio parcial causado por linguas gordas em vibração contra dentes visivelmente pouco salientes. Não estava a procurar se e como ou porque é que os amava. Eles eram apenas amor: eram a primeira prova que alguma vez tinha tido de amor, e seriam a última confirmação de amor quando tudo o mais se desfizesse."

Zadie Smith

terça-feira, 13 de maio de 2008

We all need our personal hero


Se eu tivesse que escolher um herói, escolhia o Horatio Caine. H para os amigos. É  graças ao Horatio Caine que eu consigo dormir de noite. Já não tenho medo do homem do machado, esse terror nocturno que vagueava noite sim noite não pela minha casa, à espera da melhor altura para me cortar a cabeça, as mãos, os pés e o que mais lhe aprouvesse. Sim, já sei, H é um personagem. Mas um personagem mítico, como o MacGyver ou o David Hasselhoff. Horatio Caine já é kitsh, mesmo sem necessidade da passagem de uma década. Horatio Caine faz-nos acreditar na justiça. Se o homem do machado, ou da serra eléctrica para todos os efeitos, levar a melhor sobre o nosso sono, sabemos que alguém irá, incansavelmente, procurar, encontrar e punir esse ser hediondo que nos magoou. Horatio Caine fá-lo-á pagar, e arrepender-se de nos ter ofendido.
Sim, Horatio Caine é o meu herói. Fazem falta mais Horatios assim. 

sexta-feira, 9 de maio de 2008

I'll meet you there







Será que é desta?


terça-feira, 6 de maio de 2008

Saudade


"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

Clarice Lispector

domingo, 4 de maio de 2008

Pergunta

Doem-me os sisos. Estão a nascer. Será que estou adulta?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Da esperança


* Em tempos escrevi este texto. Não o publiquei. Hoje reli-o e, mesmo fora de tempo, decidi postá-lo aqui. Foi escrito em Dezembro, para os que estiverem confundidos com as datas.


É feita de morte a vida. Mas é também feita de nascimentos. E nesse nascer e morrer vamos vivendo. Somos seres para a morte, dizia Heidegger. É verdade. Mas somos também seres para a vida. Exaltamos a cada novo nascimento. Ontem fiquei feliz duas vezes. E isso é raro. Por isso hoje continuo contente.
Entenda-se: o meu ontem e o vosso ontem não é o mesmo. Escrevo hoje este texto, que será publicado somente na próxima semana. Próxima para mim, pois que é a vossa agora. Esclareçam-se, assim, as confusões de datas que possam advir nas próximas linhas.
Foi ontem então um dia de celebrações – pelo menos para mim. Nasceu uma nova livraria em Lisboa, a Byblos. E uma nova livraria é sempre motivo de alegria. Afinal, a literatura torna-nos imortais. A quem escreve, que se eterniza no texto, e a quem lê, que torna suas as várias vidas pelas quais é tocado. E se qualquer livraria que se inaugure é motivo de regozijo, esta é-o ainda mais. É grande, verdadeiramente grande. Mas mais do que isso: ambiciona ser completa. Não se quer limitar às novidades – que também as há, e bem expostas –, mas exibir um catálogo digno da Feira do Livro. E quer chegar aos 150 mil títulos.
Enquanto por ali cirandava, e me angustiava com a ideia de que, ao longo da vida não vou ter tempo de ler todos os livros que gostaria, o telefone tocou. Era uma mensagem, daquelas com imagem. Multimédia, assim se chama. Maravilhas da técnica. Abri. Uma fotografia de uma amiga, com um bebé ao colo. Era o seu filho, que tinha nascido umas horas antes. E fiquei feliz. Embutidos de cinismo – pelo menos eu e algumas pessoas com quem converso – é frequente criticarmos o estado do mundo. Declará-lo tão mau, regido por pessoas tão cruéis, desonestas, corruptas, que visam apenas satisfazer os seus próprios interesses, que terminamos, muitas vezes, com um anúncio desalentado: «Não quero trazer nenhuma criança a este mundo. Desculpa pai, mas acabou-se a linhagem.» É falso. Completamente falso. Porque por pior que o mundo esteja, não lamento esses novos nascimentos. Fiquei feliz pela criação da livraria. Acho, inclusive – talvez numa inocência gerada pelo espírito natalício –, que lhe espera um grande futuro, feito por muitos e ávidos leitores. E, quando soube desta nova pessoa que povoa agora o meu mundo, exultei. Somos seres para a morte, é certo. Mas, nestes momentos, a vida parece eterna. Porque se recicla e renova. Porque insiste em se perpetuar.

Ia escrever sobre África, sobre a cimeira que se realizou. Sobre o estado do mundo, pois. Mudei de ideias e resolvi escrever sobre a vida que nasce. Uma livraria, uma pessoa. Juntos, poderão fazer do mundo – pelo menos do meu – um lugar melhor. Um texto de esperança, ao invés de um texto de desalento. Sejam bem-vindos. Já tocaram pelo menos uma pessoa. Espero que toquem muitas mais