quinta-feira, 26 de junho de 2008

Diálogos


- Achas que sou extremamente fútil?

- Bem...É esse o lado que mostras mais de ti. O lado da personalidade que mais vincas. Acho que é uma maneira de te protegeres.

- De me proteger?

- Sim.

- Mas achas que lá porque me gosto de divertir, comprar roupas giras, ir à praia, não posso  ter mais conteúdo?

- Sim. Poder podes. Mas às vezes não se nota. 

- Porquê?

- Todos temos tendência para avaliarmos e definirmos as pessoas por uma única característica, aquela que mais salta à vista. Depois, durante anos, agarramos-nos a essa ideia.

- Então o problema não é meu. É de quem avalia. É terrível ser uma mulher bonita e feliz. Ninguém acredita que possamos ser, também, inteligentes. Talvez seja uma ideia demasiado assustadora e intimidante.



terça-feira, 24 de junho de 2008

Sex and the City

Ali estávamos. Uma noite há muito planeada. Com a vestimenta indicada. Cabelo, maquilhagem, vestido, casaco. Sapatos. Na bilheteira do Londres a escolha era óbvia. Sexo e a Cidade. Que mais? Foram duas horas de risos, sorrisos e algumas lagrimas confessadas. Sem rasgos cinematográficos, sem um único plano retido na memória. E no entanto. No entanto todas elas voltaram, por duas breves horas às nossas vida. E foi bom. Foi bom porque nos lembraram que somos mulheres e que podemos tudo. Que conquistámos, ou temos vindo a conquistar, direitos iguais, e o devido lugar no mundo. Mas que, para tal, não precisamos perder aquilo que nos caracteriza, e que nos diferencia, enquanto mulheres. Não são - apenas - as roupas, a maquilhagem, os sapatos perfeitos. Não é - somente - a busca do amor, e um sentido romântico inabalável. A liberdade de se fazer o que se quer, quando se quer, como se quer ou a enorme força que permite ultrapassar tudo, e atingir tudo. É mais do que isso. É a capacidade feminina de amar. De amar não só os homens, os filhos, a família, mas de amar outras mulheres. De amar as nossas amigas.
A amizade feminina é diferente. Choramos umas pelas outras, sentimos tudo. Protegemos-nos, ajudamos-nos, nunca nos esquecemos. Mesmo estando longe, estamos sempre perto. E as amigas assumem nas nossas vidas um papel que mais ninguém pode assumir. É com elas que tudo partilhamos. Os segredos mais íntimos, as felicidades, as dores, os medos, as tristezas, as humilhações. As maiores alegrias e os momentos mais importantes da vida. Estão sempre lá, as amigas, e o seu amor é incondicional. Aceitam-nos exactamente como somos, porque são, talvez, as únicas que chegam, alguma vez, a conhecer a nossa verdadeira essência.
Ainda bem que vivemos este momento juntas. Ainda bem que saímos da sala e fizemos tudo aquilo. Que, acima de tudo, nos rimos, como nos rimos sempre. Porque juntas, a capacidade de rir é sempre inesgotável. E é por isso que vocês estarão sempre comigo.
Esse é o segredo que nenhum homem algum dia irá perceber sobre o Sexo e a Cidade. Que esta é, acima de tudo, uma história de amizade. Que a alma gémea não é - apenas - o Big. A alma gémea não é. São. São elas as almas gémeas umas das outras. E essa é a capacidade - tão diferente - de amar feminina.

* Isso e, finalmente, ter-se percebido que a mulher é um ser tão, ou mais, sexual que o homem. E que tem direito a sê-lo. E que se orgulha de o ser. E que gosta - tanto ou mais - de falar sobre isso. Com todos os detalhes. Abertamente. E com muitos, muitos risos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Avante!

"Temos de ir ao âmago da questão: não pode haver uma esquerda sem haver uma direita. E não se pode ter um centro sem ambas."

Harlan Coben.

Tretas. O mundo seria muitissimo melhor, as pessoas mais felizes, se gritássemos, e cantássemos, todos a uma voz e uníssono: Avante, Camaradas!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Actualização da fome

São 11 e 45 da noite. Continuo no jornal, continuo em frente ao computador. Continuo com fome. Estou profundamente infeliz.

Fome

São dez da noite. Acordei às dez da manhã. Há doze horas, portanto. Bebi um copo de sumo de fruta (entre banana, pêssego, laranja e maça, perdi a conta do que estava ali dentro), comi uma taça de Especial K, e bebi um café com leite. Almocei filetes de um peixe qualquer estranho, com um arroz duro, ao que consta de ervilhas (o meu refeitório é pior do que o das universidades públicas). Lanchei um iogurte e um café na esperança de ir para casa cedo, jantar com a minha família. Ainda estou no jornal. São dez da noite. Acho que ainda me esperam umas boas meias horas por aqui. Isto não fecha e eu tenho fome. Muita fome. O bar está fechado e não há nada a fazer senão esperar e ouvir o meu estômago a soluçar – ou será mais apropriado roncar? – por comida.

É por estas e por outras que eu não percebo as mulheres que infligem este sofrimento a si próprias apenas para emagrecerem alguns gramas. Vá...kilos. Prometo perante todos vós não me submeter a um processo de fome com vista a esse fim. E tenciono cumprir. JURO.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

"Acredito em Deus. Talvez não no Deus católico ou mesmo cristão, porque tenho dificuldade em ver qualquer Deus como elitista. Também tenho dificuldade em acreditar que algo que criou florestas tropicais e oceanos e um universo infinito, tivesse sido capaz de, durante o mesmo processo, criar algo tão tranatura como uma humanidade à sua própria imagem. Acredito em Deus, mas não como um ele ou uma ela, mas como algo que desafia a minha capacidade de conceptualizar dentro das insignificantes molduras de referência que tenho à mão."

Dennis Lehane, Um Copo Depois da Guerra

terça-feira, 3 de junho de 2008

Pedido

Podias-me levar a dar a volta ao mundo. Apanhavas-me aqui e seguíamos. De avião, de comboio, de carro, de autocarro, até de eléctrico. Não me interessa. Íamos apenas. E seguíamos sempre, em frente, sem olhar para trás, que é assim a vida e também devem ser assim as viagens. Quaisquer viagens.

Estou à tua espera. Já fiz a mochila. Está carregada de livros. Tu levas o iPod. Não precisamos de mais nada.