quarta-feira, 26 de março de 2008





Preciso de verão. Urgentemente.
Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no tempo e no espaço a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o vento o mar
São a minha biografia e são o meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

Sophia de Mello Breyner 

terça-feira, 25 de março de 2008

Pela liberdade da palavra

Disseram-me este fim-de-semana: "Vou sempre ao teu blogue. Mas até agora ainda não comentei. Não tive nada para comentar das coisas que escreves."

Deixou-me a pensar, a coisa. Escrevo coisas assim tão estranhas? Tão inúteis? Tão parvas? Tão arrogantes?Penso que não, na verdade. Mais tonto, pelo menos, não há. Mas são muitos aqueles que já me disseram algo semelhante. De uma forma ou de outra, muitos se abstêm de comentar, seja lá porque motivo for.

Como também eu não ando por aí a comentar blogues alheios, com apenas algumas pequenas excepções para um ou outro amigo, nunca esperei que o fizessem a mim e, por isso, nunca dediquei grande tempo a pensar no assunto.

Mas a verdade é que este é um blogue para amigos. Mais ninguém o quereria ler - e mesmo esses pouco o lêem. Não é assim tão interessante. Não teoriza sobre assuntos políticos, democráticos, culturais, económicos. Não expressa qualquer opinião ou controvérsia. São só algumas - poucas- deambulações minhas quando já passei todo o dia a escrever. Nada de especial, portanto.

Sendo assim, queria apenas dizer que, e isto aplica-se a todos, se alguma vez tiveres algo a dizer, escreve-o. Para isso estão as reclamações. 

E, quanto a ti que me puseste a pensar no assunto, caro companheiro crónico,  espero que te sintas sempre livre de pôr qualquer letra aqui. Todos os disparates são aceites, e todas as palavras são mais que benvindas. Adoro palavras. Todas. Até aleijadinho, que é a palavra de que menos gosto.

Quero as vossas palavras todas, mesmo que sejam más. Porque temos todos que aproveitar a sorte que temos em poder gritar tudo aquilo que quisermos, onde e quando quisermos.  E mais do que gritar, escrevê-lo. Deixar testemunho. Mesmo que tolo, parvo, inútil. Há muitos - milhões - que não o podem fazer, e têm que guardar essas mesmas palavras para o privado. Nós não. Podemos dizê-lo no espaço público. Não quero nenhum tipo de censura aqui. Nem mesmo auto censura. Se tens vontade de o dizer, escrevo-o. E já. 

segunda-feira, 17 de março de 2008

Há imagens, histórias, filmes, amores ou lembranças que apetecem.

Hoje apeteceu-me voltar no tempo, a um São Jorge cheio, comovido com uma história de amor feita de palavras e esperanças.

sexta-feira, 14 de março de 2008


Mami: isto sim, é Arte. E com uma bela mensagem.

Mensagem essa que vos dedico a todas, queridissimas camaradas! We Can Do It! ( e agora apetece gritar 'Yes we can' mas vou-me controlar e manter nos ideais Marxistas igualitários).

terça-feira, 11 de março de 2008

As Frases dos Outros: Animal; feminismo; alimentação; vida rural; ser caseira


«Como vai ele alimentar esse pequeno animal a comer?»

Por «esse pequeno animal a comer» entenda-se a minha excelsa pessoa, esta pobre que vos escreve, R.

Por «ele» entenda-se aquele que pelos vistos teria a 'obrigação' de me sustentar, ou seja, alimentar. Quem sabe sabe, quem conhece conhece, quem está a leste, não seja cusco.

Contexto: ordenado para um casal de caseiros.



Ora bem, faça-se a desconstrução semântica....



1- Não sou, de todo, um pequeno - ou grande - animal a comer. Para já, não sou um animal, no sentido de 'besta' do termo. Depois, não sou nenhuma 'jarvarda' a comer. E, a finalizar, também não sou bruta a fazê-lo, ou seja, não como assim tanto. Aliás, como já dizia o amigo Marco Paulo sou, obviamente, uma lady na mesa. Acontece, isso sim, que sou uma autêntica mulher do séc. XXI. Já para não falar de que as dietas e a anorexia há uns anos que saíram de moda, a verdade é que nunca as fiz, nem delas fui adepta ou apoiante, nem mesmo nos loucos e idos anos 90. Não sou uma menina do chá, nem da seiva. Também não conto calorias. Tão-pouco faço a dieta das privações, ou seja «esta semana não como hidratos, para desabituar o corpo da insulina; para a semana não como proteínas; sumos de fruta nem pensar porque engordam e não, essa lista de 100 restaurantes não tem nenhum para mim. talvez como uma folha de alface em casa e vá lá ter...» Não. Realmente essa não sou eu, que prefiro uma bela mariscada, ou feijoada, ou mão-de-vaca com grão, para todos os efeitos. Alinho nas jantaradas e almoçaradas, gosto de bolas e gosto particularmente de chocolates. O álcool não engorda assim tanto e o vinho é bom para o coração. Gostos desses pequenos prazeres da vida, e continuarei a gostar. E sinto-me feminina à mesma e NÃO. Não peso 100 quilos.



2- Ele. A questão do ele também me parece engraçado. Ora bem, se a proposta era trabalho para um casal de caseiros, diga-se de passagem que metade do casal seria constituída por mim. Logo metade do rendimento mensal seria, por direito, meu. Posto isso, eu própria me sustentaria, obrigada, rest my case, não preciso que ninguém me sustente (exceptuando algumas excepções e, claro, aceito perfeitamente que me ofereçam jantares, viagens, presentes de toda a espécie...)



3- Esta frase foi proferida, durante um jantar, no próprio do Dia Internacional da Mulher. Acho que não foi propriamente em nossa homenagem. Se um homem come com gosto é por isso mesmo, por ser saudável e 'comer com gosto', ser dotado de um grande apetite. Um macho no verdadeiro sentido do termo portanto. Uma mulher transforma-se logo num pequeno animal. E , além disso, tem que ser alimentada.



4- Não se deixem enganar. Este paleio feminista de hoje é apenas para desviar o assunto. Estou apenas, e na verdade, farta desta fama de comilona. Quero ser vista como uma pessoa normal no que concerne à minha alimentação, that's all.



5- Casal de caseiros. Bem, a vida rural parece-me bastante engraçada. Consta que há porcos à discrição, que por sua vez dão origem a uma belas febras.



6- A que horas é preciso por as vacas a pastar? E ir recolhê-las? Estarão oito horas de permeio? É que são as horas de que preciso de sono...



7- Considerando o facto de as caseiras não terem que fazer qualquer trabalho domestico, seja de que espécie for, e de que não podem ser chamadas nem para emergências de esquentadores, isso significa que eu teria que fazer concretamente o quê?



8- É que considerando as premissas, parece-me que iria ter tempo suficiente para ler uma boa média de cinco livros por semana. O que significa que conseguiria nuns meses de trabalho, bater os russos, os americanos, ingleses e franceses.



9- A vaga ainda está por preencher?



10- Há abelhas, moscas e melgas o ano inteiro?



11- Estou a gostar da imagem que tenho no cérebro neste momento da vida rural. Posso proibir meninas citadinas mimadas de gritarem algo ofensivo como «Chamem a caseira!!!!»? E, caso o façam, posso ignorar os seus gritos?



12- Há TVCABO e Funtastic Life nos montes alentejanos? Posso ter um vale Blanco Badajoz incluído no ordenado?



Bom, face a todas estas interrogações fiquei com fome. Vou atacar o frigorífico e alimentar-me. Que sugerem para a ceia? Pizza, bolo de chocolate, cação de coentrada?

quarta-feira, 5 de março de 2008

Moral da história

«O que queres tu?»perguntou-lhe. «Não sei. Quero tudo. Quero o branco e o preto. Quero a noite e o dia. Quero a luz e o negrume. Quero o frio e quero o calor. O céu e o inferno. O mar e o rio. A água e o fogo. Quero os Beatles e os Rolling Stones. Quero Country e Hip-Hop. Quero cinema americano e quero cinema português. Quero o Público e o 24 horas. Quero o Dan Brown e quero o Tolstoi.», respondeu.

Ela pensou na respostas que acabara de ouvir. Em tom de censura, apontou: «Queres tudo então.»

Face a isso, a outra hesitou. Não era que quisesse tudo. Pensou melhor. «Não é bem isso. Acima de tudo, não quero optar. Não quero ter que fazer escolhas.»

«Tens medo do que possas perder?», interrogou-a de novo. «Sim. Talvez seja isso», admitiu.

«Chama-se custo de oportunidade», explicou-lhe enquanto acendia um cigarro. «Pode ser que, mais tarde, de tanto não quereres escolher, fiques sem nada», disse para concluir a conversa.

«Porquê? É isso que me desejas?», questionou. «Não. Mas a isso chama-se 'moral da história'. E não é por acaso que existe em todas as fábulas.»

terça-feira, 4 de março de 2008

«E tudo o que parecia impossível era possível, afinal. Ela tinha o dom dos pés, que se colocavam um após o outro e lhe permitiam sair dali, e tinha o dom das mãos, para abrir caminho pela vida, e não olhou para trás.»

Anne Enright, in Corpo Presente