sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Let's Do It: Let's Fall in Love




Birds do it, bees do it,
Even educated fleas do it,
Let's do it, let's fall in love.

The ancient Romans and the Greeks did it,
Even nice young men who sell antiques do it,
Let's do it, let's fall in love...

Cole Porter

Do amor

«The absolute yearning of one human body for another particular one and its indifference to substitutes is one of life's major mysteries.»

Iris Murdoch (1918 - 1999), The Black Prince

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A melhor canção de chuva de sempre. C.C.R.




Que mais canções de chuva há por aí?

Chuva


E mais uma vez a chuva. Ainda bem que chegou. Irrita-me isto dos pés molhados, é certo. Irrita-me o cabelo cheio de vontade própria, disposto a fazer-me pagar por todas as regras que lhe impus no resto do ano. Irrita-me o trânsito e irritam-me solenemente os condutores chuvisqueiros. Irrita-me ainda mais a falta de luz, e a subsquente tristeza que se vive desde manhã. Irrita-me o cheiro a humidade vindo das roupas dos outros. Irritam-me os chapéus de chuva alheios, que quase nos arrancam os olhos enquanto andamos pelos passeios. Irrita-me o meu chapéu de chuva, molhado, que nunca sei onde deixar. Irritam-me as calças, que se encharcam nas poças.

Irritam-me muito mais coisas, mas já estou farta de estar a debitar. Mas gosto do cheiro da chuva. Gosto do som que faz enquanto bate na janela. Gosto da possibilidade de tardes e noites passadas à lareira (que nunca acontecem). E gosto sobretudo que me traga a sensação de inverno e, com ela, a noção de que é Natal. O espirito natalicio de que tanto se fala por aí.

Mas o que verdadeiramente adoro, é a esperança que a chuva traz com ela. A de que se vá embora e que o sol volte de novo.

Estou farta desta neura de inverno.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Express yourself




don't repress yourself

Recrutamento


Para se alistar, por favor carregue no link comentários em baixo e digite nome, idade, profissão, morada, e-mail, e n.º de telemóvel. Será posteriormente contactado. Embora não seja obrigatório, é aconselhável fornecer fotografia. A (boa) imagem é requisito obrigatório.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Superwoman




Aren't we all?

A grande invenção

Ficámos mais livres há precisamente noventa e quatro anos. Foi a 13 de Dezembro de 1913 - o ano não é absolutamente consensual, mas aceite-se este - que Mary Phelps Jacob, uma jovem socialite nova-iorquina se irritou com um espartilho. Queria usar um vestido para uma festa. Mas o espartilho não ficava bem com o vestido e, para além disso, apertava-a e deixava-a desconfortável. Num gesto de pura rebeldia, Mary chamou a criada e, com esta, juntou dois lenços de mão, uma fita com um laço cor-de-rosa e....voilá. Criou aquele que viria a ser o primeiro soutien. Fez umas quantas cópias para as amigas e percebeu que o modelo tinha bastante aceitação. Afinal, um espartilho é do mais desconfortável que pode existir. Esperta como era, registou a patente, e dedicou-se à sua comercialização.
E, graças a esta ideia, todas nós hoje usamos essa magnifica peça de roupa interior. Se a umas segura, a outras aumenta, a outras juntas, a outras levanta, a outras tudo a uma só vez. A verdade é que quase nenhuma mulher resiste aos seus encantos.

Eu, pelo meu lado, alegro-me e agradeço aos céus pela invenção. Não imagino a minha vida enfiada num espartilho diarimente. Seria, decerto, muito mais infeliz. E com menos ar. Mais elegante, porém. Mas o que é que isso interessa?
Thank you Mary for the wonder bras! You have saved us all.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A banda sonora dos dias II




John Legend - P.D.A. (We just dont care)

A banda sonora dos dias



Os dias também têm sons. Sons que, também eles, são feitos de letras, de palavras, de linhas. Que nos definem as horas, os dias. Que nos definem, muitas vezes, a alma.
Por isso, a partir de hoje, As linhas dos dias serão também feitas de músicas. Porque, se um dia não tiver, pelo menos, uma música, será, decerto, um dia triste. Vazio.
A banda sonora dos dias, pois.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

As frases dos outros - Chefe de família...mas pouco

«Quando penso nele, em casar com ele, vejo isso. Tem valores semelhantes os meus. É o meu ideal de marido. Tenho a certeza que vai ser bom pai, bom chefe de família.
-Chefe de família? - interferi eu, exaltada - Fico doente quando oiço uma frase dessas. Estamos num século XXI. Queres ser mandada? Queres ter um homem que mande em ti? - perguntei.
- Já te disse e volto a dizer - insistiu. - Acho que todas as famílias devem ter um chefe. E que esse é o papel do homem. Mas a mulher acaba sempre por mandar. São as que têm medo as que ficam irritadas com essa conversa.»

Não vale a pena fazer grandes comentários, pois não? Mais uma pérola, desta vez no feminino. E, mais uma vez, vinda de uma pessoa, neste caso uma mulher, que respeito. E que, acredito firmemente, nunca será mandada. Nem chefiada. Porquê, então, a necessidade de ter um «chefe de família»? Não deveríamos querer igualdade? Não deverão, marido e mulher, pai e mãe, ter um papel igualitário no seio da relação/família?

Estamos no século XXI. E ainda há mulheres, na casa dos vinte, com cursos superiores e futuro profissional assegurado, que querem ter um «chefe de família.» Só a frase provoca-me arrepios na espinha associados a uma náusea forte. É esta formação de conceitos, de clichés, que tem que ser ultrapassada. E urgentemente.

Que queimar desta feita, então? Estou sem propostas. Na verdade, estou assoberbada, quase sem palavras. Prestes a converter-me ao mudismo. Uma frase extremamente machista, proferida por uma mulher, e que ainda tem em si a questão das chefias e das hierarquias. Na família. Chefia na familia? É um conceito que me ultrapassa.

Bom, talvez queimar qualquer coisa que esteja ao fogão. Porque, pelos vistos, voltámos para a cozinha. Se é que de alguma vez de lá saímos. Back to the perfect housewife theme. Mas desta feita, à obrigação de ser a mulher perfeita, ter a casa perfeita, com os filhos perfeitos, junte-se a necessidade de uma carreira. Ou caberá, ainda, ao homem, o papel de sustentar a família? Será que, como chefe, ainda tem esse dever? Tendo ou não, pelos vistos, ainda é necessário, pelo menos, para orientar a esposa, e tomar as decisões finais. Porque ele é que sabe o que é melhor. E porquê? Porque é homem.
Longo percurso que as mulheres ainda têm que percorrer para atingir a igualdade. A começar nelas próprias. Só consigo dizer, mais uma vez: assim estamos no século XXI.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Da dor

Olhou pela janela. Sentia-se cansado. Velho. A chuva. As dores. O peso do corpo. A solidão. Custava-lhe cada vez mais aquele olhar, sempre rotineiro. Aqueles olhos, que olhavam o mundo. Sempre de fora. O mundo lá fora. E ele de fora do mundo. Dentro daquelas quatro paredes. Asfixiantes.
Sempre o mesmo acordar quebrado. Os olhos que se abriam, devagar, para nada ver. A espera. A falta de expectativa. Sempre aquelas dores. Tinha agora uma enorme consciência do corpo. Nunca se esquecia da mão, da perna, da barriga, das costas, da coxa, do pescoço, dos ombros. Estavam sempre lá. Estendia-os, num movimento lento, exaurido. E esperava, no escuro, na densidão do ar, no silêncio.
Até ao clique. Ao rodar das chaves. E, como no dia anterior, e como decerto no dia seguinte - haveria um dia seguinte? - mais uma vez, a voz, as mãos que o levantavam, o puxavam, o obrigavam a encarar a vida. Em gestos rápidos - tão obscenamente rápidos - iluminavam o quarto, deixavam entrar o ar, lavavam-no, vestiam-no, tiravam-no da cama, colocavam-no numa cadeira, junto à janela. «Olhe, anime-se! Já viu o dia tão bonito que está lá fora? Podia dar um passeio hoje. Fazia-lhe bem andar. Apanhar ar. Um bocadinho de sol», dizia a voz. Aquela estúpida voz. Cheia de inflexões - alegres?, felizes?, expectantes?, - que o atingiam mais que qualquer uma das suas dores, do que qualquer um dos seus espasmos.
Nunca lhe respondia. Sabia que podia, que era fisicamente capaz de o fazer. Mas recusava a ideia de compactuar com aquela voz. Da cumplicidade que arriscava criar. E deixava a voz falar, continuar a lenga-lenga, naquele timbre agudo - animado, era isso, animado - carregada de um optimismo hipócrita. Idiota.
O café com leite, a carcaça com manteiga. A janela. A sopa guardada, a fruta. A voz saía. Ele ficava. Todo o dia, a olhar a janela. E pela janela a estrada, o passeio, as pessoas, os carros, os cães, as árvores, o céu, o sol, as flores, as nuvens, a chuva, o calor, o frio, as estações. Era a vida, então. A vida que era a dos outros. A vida lá fora e ele de fora da vida, naquele corpo gasto e acabado. Obstinado. Irredutível. Cruel. Pois que insistia, desumanamente, em continuar a funcionar.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Em jeito de conclusão

Aqueles que são julgados culpados por crimes de alta traição são severamente punidos. E é opinião comumente aceite a de que deve ser assim. Se confiamos num dirigente politico para reger os nossos destinos, e do nosso país, podemos aceitar muita coisa: suborno, corrupção, ingerência, e uma lista infindável de de «pequenos crimes». Mas traição, não. Mas o que pode ser considerado traição? Geralmente favorecer um outro país, em detrimento do nosso.
Nas relações a coisa é semelhante. É difícil lidar com a traição. Porque se favoreceu outra pessoa. Porque há um outro. Não foi apenas uma questão caseira. Entrou um estranho. E esse estranho, de uma forma ou outra, sob a perspectiva do lesado, saiu favorecido relativamente a este. E isso não é fácil de aceitar. Se é que alguma vez se aceita.
Não é preciso que seja uma relação amorosa. Pode ser uma relação de amizade. Que o digam as mulheres. Atraiçoar-se uma amiga? Não se perdoa. Porque a confiança foi quebrada.
E relações sem confiança não são realmente relações. Não há entrega. E uma relação, seja de amizade ou amorosa, sem entrega não funciona realmente bem.
Mas o que se considera traição? Geralmente, a presença de uma terceira pessoa. Pelo menos para nós, ocidentais. Acreditamos nas relações monogâmicas, no amor eterno - pelo menos enquanto dura. Na entrega a uma, e apenas uma pessoa. Mas, no fundo, a traição é a quebra de um contrato, previamente feito, ou subentendido.
Se uma amiga conta um segredo a outra, pressupõe que esse segredo está bem guardado. Quando se entrega o coração a outra pessoa, costuma-se exigir fidelidade. A fidelidade é, aliás, um dos votos do matrimónio. Mas tenha-se um casal que acorda na manutenção de relações extraconjugais. Em caso de uma terceira pessoa, não há traição. Porque há sinceridade. Não há quebra de confiança. Não há falsas promessas ou quebras de votos.
É uma questão complexa a da fidelidade. Eu que o diga. Incomoda-me o meu cão. Diz-se que são os melhores amigos do homem - e da mulher. E que a fidelidade, quando é da boa, é como a canídea. Nunca vi tamanha falácia. Tenho uma muito boa relação com a Cuca, é certo. Mas não há fidelidade que sempre dure. Basta um completo estranho acenar-lhe com uma fatia de pizza, para que me troque na hora, em busca desse oásis de farinha, tomate, queijo e oregãos. E de nada me serve chamá-la, gritar, ordenar, implorar. Comerá primeiro. Mas, assim que termine o repasto, voltará em passo de corrida. E iremos juntas para casa. Aparentemente, se o melhor exemplo de fidelidade é a canídea, isto é o melhor a que podemos almejar neste campo.
Há pessoas assim, como a Cuca, que vão atrás do que gostam e lhes desperta desejo. Há traições assim. Mas é difícil perdoar e esquecer como eu desculpo a Cuca. Temos mesmo a relação perfeita.

P.S. É tudo que que me é dado dizer sobre traições. Aquilo que é traição para um, pode não o ser para outro. Para uns será desculpável, para outros talvez não. Cada um vive com o que quer, e consegue. Mas, acima de tudo, nenhuma relação vive sem confiança. Por isso é que a minha relação com a Cuca se mantém após tantos anos, e tantas fugas. Eu, assim que a Cuca abana o rabo, sorridente, a olhar para mim, volto a confiar nela, e tiro-lhe a trela. Dou-lhe toda a liberdade do mundo. Porque confio que nunca mais me trocará por uma fatia de pizza. Engano-me, pois. Mas vamos sendo felizes assim. E, no final, talvez seja isso que importa.