quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A M.

Madalena,

Eu vi-te hoje mas tu não me viste a mim. Passaste a tarde de olhos fechados. Não faz mal. Eu percebo. Há muito a descobrir no mundo, muitas cores por ver, muitas caras. Demasiada confusão. Acabaste de nascer. Ainda não tens três kilos. És uma mini-me. Mas mais cabeluda.
Daqui a uns anos vais ser maior (mais alta, entenda-se) do que eu. Não é difícil, como virás a perceber um dia. Só consigo superar em altura as crianças até à sua fase adolescente. Até lá vou ser a Tia. Até que me encares de frente e percebas que sou igual a ti. Com os mesmo medos, inseguranças e ignorâncias. E com a mesma vontade de viver. Não sei que tia vou ser para ti. Se a tua vida está a começar, também uma nova fase está a começar para mim. A fase em que a minha geração começa a gerar uma nova geração - da qual fazes parte. Por isso, Madalena, não sei como vai ser essa minha nova vida que agora começa, tal como tu não sabes como vai ser a tua. Mas espero ser a tia Rita com quem podes falar, desafabar, brincar, sair, aprender, divertir. Acima de tudo, a Rita com quem podes sempre contar, sem esse prefixo terrível que me afasta automaticamente de ti.  
Um dia vais abrir esses teus olhos enormes e ver. E vais espantar-te com o mundo, e tudo vai ser novo e magnífico para ti. Vais ver tudo brilhante e vais ter cada dia mais curiosidade para conheceres mais.
Espero que essa curiosidade, e essa capacidade de te surpreenderes, não se esgotem nunca. Não sei em que mundo vais viver. Ele está a mudar agora - não estará sempre?  - e não faço ideia de como ficará. Espero que melhor. Eu conheci dois séculos, dois milénios. No decorrer da História, apenas de raspão, claro. Mas tu não. Tu és uma pessoa do novo século, do novo milénio. Espero que tenhas também uma mente nova. Aberta. De olhos postos no futuro. Sem preconceitos ou conservadorismos inúteis. Que sejas uma pessoa maravilhosa. Que sejas feliz, que tenhas sempre uma enorme capacidade de sonhar. Que, com os teus gestos, com as tuas palavras, e com o teu coração, consigas tocar e mudar a vida das pessoas, tornando-as, de alguma forma, melhores. 
Tens todos os caminhos à tua frente. Espero que escolhas os melhores e os que te deixarem mais feliz. Quero que saibas que, apenas com três dias, já mudaste a minha vida, já me fizeste sorrir, emocionar. Acrescentaste algo ao meu mundo: acrescentaste-te a ti.  E já o tornaste melhor. Apenas por existires. Imagina o quanto o vais melhorar por tudo aquilo que disseres, e fizeres, ao longo dos próximos anos. 
Desejo-te a melhor das vidas. Bem-vinda à Terra. Bem-vinda à vida.  

Um comentário:

El-Gee disse...

Há por aí uma data de novas tias, hoje em dia, a escrever post as sobrinhas recem-nascidas. Deve ser uma coisa qualquer de mulher, um instinto maternal qualquer por resolver, porque nao vejo gajos a escrever textos aos sobrinhos.

(sobre o texto em si, daqui a uns anos, quando a Madalena vier ler isto, vai-te achar uma tia muito querida e a mim um idiota insensível.)

(nao que isso me preocupe, madalena)

(este ultimo parentesis era para a madalena já que ela, se ler este post, tambem deve querer ler os comentários.)

(portanto: um beijo, Tio Luis)