terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Em jeito de conclusão

Aqueles que são julgados culpados por crimes de alta traição são severamente punidos. E é opinião comumente aceite a de que deve ser assim. Se confiamos num dirigente politico para reger os nossos destinos, e do nosso país, podemos aceitar muita coisa: suborno, corrupção, ingerência, e uma lista infindável de de «pequenos crimes». Mas traição, não. Mas o que pode ser considerado traição? Geralmente favorecer um outro país, em detrimento do nosso.
Nas relações a coisa é semelhante. É difícil lidar com a traição. Porque se favoreceu outra pessoa. Porque há um outro. Não foi apenas uma questão caseira. Entrou um estranho. E esse estranho, de uma forma ou outra, sob a perspectiva do lesado, saiu favorecido relativamente a este. E isso não é fácil de aceitar. Se é que alguma vez se aceita.
Não é preciso que seja uma relação amorosa. Pode ser uma relação de amizade. Que o digam as mulheres. Atraiçoar-se uma amiga? Não se perdoa. Porque a confiança foi quebrada.
E relações sem confiança não são realmente relações. Não há entrega. E uma relação, seja de amizade ou amorosa, sem entrega não funciona realmente bem.
Mas o que se considera traição? Geralmente, a presença de uma terceira pessoa. Pelo menos para nós, ocidentais. Acreditamos nas relações monogâmicas, no amor eterno - pelo menos enquanto dura. Na entrega a uma, e apenas uma pessoa. Mas, no fundo, a traição é a quebra de um contrato, previamente feito, ou subentendido.
Se uma amiga conta um segredo a outra, pressupõe que esse segredo está bem guardado. Quando se entrega o coração a outra pessoa, costuma-se exigir fidelidade. A fidelidade é, aliás, um dos votos do matrimónio. Mas tenha-se um casal que acorda na manutenção de relações extraconjugais. Em caso de uma terceira pessoa, não há traição. Porque há sinceridade. Não há quebra de confiança. Não há falsas promessas ou quebras de votos.
É uma questão complexa a da fidelidade. Eu que o diga. Incomoda-me o meu cão. Diz-se que são os melhores amigos do homem - e da mulher. E que a fidelidade, quando é da boa, é como a canídea. Nunca vi tamanha falácia. Tenho uma muito boa relação com a Cuca, é certo. Mas não há fidelidade que sempre dure. Basta um completo estranho acenar-lhe com uma fatia de pizza, para que me troque na hora, em busca desse oásis de farinha, tomate, queijo e oregãos. E de nada me serve chamá-la, gritar, ordenar, implorar. Comerá primeiro. Mas, assim que termine o repasto, voltará em passo de corrida. E iremos juntas para casa. Aparentemente, se o melhor exemplo de fidelidade é a canídea, isto é o melhor a que podemos almejar neste campo.
Há pessoas assim, como a Cuca, que vão atrás do que gostam e lhes desperta desejo. Há traições assim. Mas é difícil perdoar e esquecer como eu desculpo a Cuca. Temos mesmo a relação perfeita.

P.S. É tudo que que me é dado dizer sobre traições. Aquilo que é traição para um, pode não o ser para outro. Para uns será desculpável, para outros talvez não. Cada um vive com o que quer, e consegue. Mas, acima de tudo, nenhuma relação vive sem confiança. Por isso é que a minha relação com a Cuca se mantém após tantos anos, e tantas fugas. Eu, assim que a Cuca abana o rabo, sorridente, a olhar para mim, volto a confiar nela, e tiro-lhe a trela. Dou-lhe toda a liberdade do mundo. Porque confio que nunca mais me trocará por uma fatia de pizza. Engano-me, pois. Mas vamos sendo felizes assim. E, no final, talvez seja isso que importa.

2 comentários:

Anônimo disse...

A Morte da artista

Anônimo disse...

Anonimo: Nao sejas assim...a menina vai sentir-se triste e depois terás q te esforcar o dobro para a fazer sorrir..!;)

Happy Hannukah!!!